segunda-feira, 3 de junho de 2013

Depoimento

Talvez, meu depoimento de leitura e de escrita seja a de que comecei a participar de correções de redações de uma universidade de Campinas por volta dos anos de 1991, com treinamentos através de cursos de aperfeiçoamento e de prática de correções de redações de vestibular.
Num desses treinamentos, foi preciso escrever uma redação, como se fosse um candidato ao vestibular, lembrando-se dos critérios que seriam seguidos para a correção daquele texto típico de concursdos. Aí, eu e o grupo de professores, nessas condições, pudemos sentir na pele a importância do planejamento da escrita de uma redação de vestibular e em pouco tempo para escrevê-la. Sentimos um pouco do que deve sentir um jovem adolescente nessa situação. Ler e avaliar redações dos outros é fácil para um professor de Língua Portuguesa. Saber que será avaliado é outra coisa. Daí a importância de um professor escrever, também ele. Todos somos escritores.
As minhas experiências, na verdade, não foram sistematizadas, foram mais livres. Tive a oportunidade de estudar em escolas que incentivavam atividades extras, como concursos de letras de músicas religiosas e profanas, exercitando a divagação pela poesia, simulando poemas, repetindo ideias de outras fontes temáticas, redigindo avisos, criando jornais, histórias em quadrinhos, ilustrações, pinturas etc. Nessa escola, havia o que chamávamos "Sessão Acadêmica", quando cada classe, num determinado mês, era responsável para apresentações de um  programação com poesias, músicas, teatros, esquetes, mensagens, discursos... ou seja, era necessário um trabalho de pesquisas e havia um clima não de disputa entre as salas, mas a de não fazer feio diante das outras, quando precisava-se planejar, ler muito, buscar ideias, pensar e registrar/escrever as produções, programar cada atividade, preparar, ensaiar, dedicar-se, enfim. Creio que foi nessa experiência que a leitura e a escrita foi se vendo necessária, sem ser forçada. Ainda nesse período, havia o costume de leituras livres, tendo uma biblioteca a disposição para entrar e escolher títulos variados, ao gosto de cada um. Havia uma "santa" disputa por quem lia mais. Os leitores comentavam com os colegas as histórias que liam, em rodas de conversas informais, uma vez que vivia-se em um internato. As experiências eram partilhadas, alem de um costume de todo dia haver um "boa-noite", ocasião em que se ouvia a fala, uma mensagem, um ensinamento para a vida, para o qual, muitas das pessoas que efetivavam esse "boa-noite", antes de ir dormir, traziam fontes de livros religiosos, filosóficos, depoimentos de personalidades, ensinamentos de sociólogos, de políticos, de pesquisadores e até fontes bíblicas para as mensagens que punham foco.
Fora isso, aprendemos a estudar, escrevendo, resumindo, sintetizando os conteúdos de nossas aulas. Havia o hábito de estudo e de leitura diários, tomando, no mínimo seis horas do dia. As atividades desenvolvidas requeriam buscar informações através de pesquisas, de leituras, para construir murais informativos, apresentar sessões artísticas, ou seja, efetivar uma formação humanística.
Daí, creio na pertinência de experiências que levem à leitura pela possibilidade de levar ao conhecimento, à escobertas, à extinção de dúvidas, à reflexão de ideias, ao conhecimento de lugares inimagináveis, à diversão etc, levando à realização e à formação humana, para possibilitar o exercício pleno de cidadania, de sociabilidade, de construção de conhecimentos e de profissionalização.
Admira-me, assim, depoimentos como o de Marilena Chiaui, sobre a importância da leitura como possibilidade de criar mundos e subverter o existente, abrindo para o novo e descobrindo conhecimetos. Aproximo-me da ideia de Contardo Callegaris, definindo a literatura como um catálogo de vidas possíveis e impossíveis, da inventada com liberdade e, ainda, a fala de mestres como Antônio Cândido, expondo a produção literária como satisfação das necessidades do ser humano, como enriquecimento da percepção e da visão do mundo, contribuindo para a humanização e para o aperfeiçoamento individual e social.
Isso tudo corrobora com os simples depoimentos de músicos como Gabriel, o pensador, e de Gilberto Gil, que valorizam a figura familiar da avó, como acompanhantes de um processo de estudos, de ouvir histórias, de auxílio no letramento, e a de Clair Feliz Regina, afirmando sobre a poesia que "tudo o que você quer cabe dentro de uma poesia", porque acredito que tudo o que se queira cabe na vida, e é só vivê-la intensamente. É preciso ler a vida, ler o mundo, ler o outro, ler a si mesmo. Valorizando as letras, descobre-se autor e leitor da vida como um todo.

José Benedito

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